Sendo um componente entre tantas outras cidades e municípios de Minas Gerais, Presidente Juscelino, conhecido popular e regionalmente como Paraúna, é um vestígio e manifesto da história de um povo e da cultura que os envolvia em tempos oriundos da descoberta de uma nova identificação acerca de uma terra vasta e desconhecida. Em primeira análise, se faz de suma importância que determinemos os pontos e os acontecimentos que antecederam o surgimento, as causas e a formação estrutural do município e de como o conhecemos atualmente. A história de Presidente Juscelino começa antes mesmo do surgimento de seu próprio nome, que, a propósito, já obteve diversas outras nomenclaturas que iremos detalhar conforme prosseguimos. Para contextualizar, na década de 1960 o estado de Minas Gerais se depara com o enfrentamento de crises sociais correlacionadas às crises políticas da época que invocavam a necessária ação de adaptação em meio ao incerto rumo que o país estaria prestes a tomar. Com a rápida expansão econômica viabilizada pelo Plano de Metas do atual Presidente da República na época, Juscelino Kubitschek, o país acaba por comprometer-se, idem, com a rápida chegada dos agravantes constantes de tais tomadas de decisão orquestradas e administradas por seu titular. Isso fez com que, economicamente, o Brasil tivesse de colapsar com revoltas e com a insatisfação popular para com a devida situação inserida e representada pelo país. As consequências na infraestrutura política acarretaram mudanças que afetaram diversas localidades dentro do nosso país, incluindo o estado de Minas Gerais. O êxodo rural estava em seu auge, e capitais, como Belo Horizonte, viviam crises na infraestrutura urbana, o que, posteriormente, se manifesta como um dos fatores contribuintes para o surgimento do município de Presidente Juscelino. O desbravamento da região se deu início a partir da instauração das primeiras construções de armazéns no local, com o intuito econômico de conservar e manter alguns produtos provindos do plantio e de atividades econômicas rurais de subsistência praticadas, aliás, em suas próprias redondezas. Tais produtos eram transportados e comercializados para os centros consumidores no estado de Minas Gerais, possuindo uma demanda que requer mão-de-obra e consistia em sua, consequente, expansão, principalmente com a vinda de novos moradores para a localidade que se estabeleceram ao redor dos armazéns ou ao longo do rio Munin, usufruindo das vantagens comerciais que o mesmo oferecia pelo seu fluxo como meio de transporte. Vale ressaltar a grande influência e importância que o rio possui para o crescimento e o aumento do número de habitantes que passaram a ocupar a região, já que o alto índice transitivo de pessoas ao longo dele possibilita uma maior e mais vasta influência acerca da sua existência. O Rio Paraúna até sua barra com o Rio da Velhas sempre foi considerado o limite geográfico entre as comarcas do Rio das Velhas e do Serro Frio, elemento que teria importância crucial para a formação regional. Presidente Juscelino insere-se nesse contexto, já que os limites do município sempre fizeram parte da Comarca Rio das Velhas. Os documentos mais antigos encontrados até hoje sobre essa localidade são as cartas de sesmarias de fazendas da região. As sesmarias eram entregues aos fazendeiros como garantia que cumpririam o objetivo de desenvolver a agricultura e criação de gado. Em 1740, Gomes Freire de Andrade assinava a carta que delimita as terras próximas ao rio Paraúna. A fazenda do Capitão Mor Alexandre de Souza Flores, a quem era concedida a sesmaria, era delimitada de um lado pelo Rio Paraúna, outro pelo Rio das Velhas e a terceira parte fazia fronteira com a fazenda do Padre Antônio Corvello Avilla, no riacho Bananal. A carta obrigava o capitão a povoar e cultivar as ditas terras dentro de dois anos. Era previsto que o Capitão deveria respeitar o limite com os moradores e garantir que não houvesse de seu território por apropriação alheia. Além da agropecuária, várias atividades eram realizadas nas antigas fazendas que contavam com bens de produção como: engenhos de aguardente, moinhos de fubá movidos a roda d’agua, engenhocas e monjolos hidráulicos, fornos de ferreiro, etc. O sistema de sesmaria conviveu constantemente com o processo de demarcação de Minas Gerais. A criação da Comarca do Serro Frio e a posterior demarcação do Distrito Diamantino marcaram a história do território que hoje é Presidente Juscelino. A ocupação do Comarca de Serro Frio deu-se no sentido norte-sul, sendo os primeiros povoados irradiadores a Vila do Príncipe e Arraial do Tijuco. Já a história da demarcação de Diamantina foi marcada pela forte repressão militar, que foi o território mais vigiado da América Portuguesa. A reformulação da demarcação dos distritos dos diamantes em 26 de agosto de 1739 inseriu toda a margem direta do rio Paraúna na demarcação, tornando a região que é atualmente Presidente Juscelino fronteiriça com a demarcação diamantina, transformando assim o local em uma espécie de celeiro que produzia boa parte dos gêneros alimentícios que abasteciam o Tijuco e os demais centros urbanos. Em 1801 foi fundado o arraial de Paraúna, que viria se tornar a cidade de Presidente Juscelino. Essa ocupação proveio da liberação das margens do rio Paraúna para uma exploração livre do garimpo, que fez o arraial crescer rapidamente. Contudo, de acordo com Joaquim Felício dos Santos, esse crescimento seria paralisado e até mesmo revertido pelas dificuldades de se encontrar ouros e diamantes nesse rio. Segundo o viajante Burton, Paraúna floresceu no tempo da demarcação diamantina, que começava nesse povoado. A região onde hoje se localiza a cidade de Presidente Juscelino é conhecida no tempo colonial pela quantidade de salitre encontrado em suas montanhas. Na revista do Arquivo Público Mineiro de 1898, Francisco José da Silveira narra uma viagem feita em 1800 e seu espanto diante da quantidade de nitreiras (como eram conhecidas as minas de salitre) encontradas pelo caminho e a possibilidade econômica que elas poderiam representar ao governo colônia. Em 1803, uma expedição foi encomendada pelo governo colonial para a região e conclui-se que ali havia uma nova e importante fonte de riqueza caso fosse explorada sistematicamente, e seu parecer era favorável a uma fábrica de pólvora junto às nitreiras. No entanto, ainda que a conclusão tenha sido favorável, tal atividade não foi empreendida pelo governo colonial, devido à proibição da fabricação de pólvora, fazendo assim que apenas se extraísse o salitre clandestinamente. Apesar da decadência da mineração ter afetado a permanência das grandes fazendas, o surgimento e o fortalecimento de novas fazendas foram preeminentes no mesmo período. Acredita-se que a maioria das antigas fazendas de Presidente Juscelino tenham sido fundadas no século XIX, a divisão de terra sendo bastante desigual. As fazendas eram um mundo praticamente autônomo, com uma produção policultural que supria quase todas as necessidades de consumo. Em 1867, o viajante Richard Burton conta em seu diário uma passagem que fez por Paraúna. Burton descreve o povoado como tendo uma rua na qual se alinhavam cerca de setenta cabanas de barro, um grande de riacho e oito vendas; na margem direita do rio, se encontravam poucas casas e uma olaria. A freguesia de São Sebastião do Paraúna em 1872 e seu primeiro vigário foi o padre Francisco de Paula Moreira. Boa parte dos registros dos primeiros anos da paróquia foram perdidos em um incêndio. A igreja de Presidente Juscelino foi reformada algumas vezes, sendo modificados sua frente e seu fundo e as dimensões da igreja, modificando muitas de suas características originais. Atualmente as principais festas locais são relacionadas ao catolicismo como a semana santa e a festa de São Sebastião, além das festas de padroeiros de cada comunidade. A formação da cidade está relacionada ao fato dessa área se um local de passagens de viajantes e comerciantes que seguiam para Diamantina. No século XIX, o povoado e suas terras estavam anexados ao distrito de Traíras, criado dentro do município de Curvelo que se estendia até a barra do rio Paraúna no Rio das Velhas. Em 30 de outubro de 1866, foi criado o distrito de Ponte do Paraúna, sendo separado de Traíras. A sede da povoação contava com 45 casas de telha, 15 de feno e 10 em construção; dividiam-se em 2 ruas e praças, sem contar com nenhum edifício público. O Paraúna foi uma das localidades escolhidas como candidatas a se tornar a nova capital de Minas Gerais no começo do governo republicano, em 1893. O relatório feito pelo engenheiro Luiz Marinho, avaliava as quedas d’água do Rio Paraúna como possibilidade de abastecer a população, bem como seu valor energético. O relatório também declara que a região era propicia a criação de animais e recursos agrícolas; no que se refere aos recursos mineiros, a grande quantidade de pedras calcarias seriam adequadas para a produção de calçadas e construções. A escolha final da comissão foi contrária a instalação da nova capital na região, sendo justificado pelo cálculo dos gastos e maior adequação a região de Belo Horizonte. A existência de uma ponte sobre o Rio Paraúna consolidaria o povoado como um lugar de passagem para os viajantes que atravessavam Minas em direção a Diamantina. Com a construção da primeira ponte no tempo dos escravos (por volta de 1866) pelo Coronel Domingos Diniz, a localidade tornar-se-ia distrito com o nome Ponte do Paraúna. As recorrentes cheias do rio Paraúna levariam a destruição da ponte, no final de século XIX, interrompendo assim o caminho dos viajantes para o Norte de Minas, acarretando também na diminuição do comércio da região. Durante três anos a ponte não foi substituída e a travessia para o norte de Minas era feita pelo Rio na época de secas. Em 1933 teve início a construção da nova ponte com o dinheiro do estado e da prefeitura de Curvelo; a estrutura de madeira grossa foi feita na margem e depois montada no rio, sendo que a obra era interrompida toda vez que começava a cheia de água. Quando a ponte foi finalizada, houve festa na cidade para comemorar sua inauguração. Porém, após a construção de uma rodovia e uma nova ponte sobre o rio, a cidade perdeu o posto de entreposto rodoviário, sendo abandonada e se encontrando hoje em estado de ruínas. Em 30 de dezembro de 1962, Paraúna foi elevado a município, cuja instalação se deu em 1o de março de 1963, com o nome de Presidente Juscelino. A lei que criou esse município pode ser considerada a promotora do maior surto de emancipação na história de Minas Gerais, sendo responsável pelo estabelecimento de 237 municípios no estado. A cidade, diferente de seus municípios vizinhos, ainda preserva a maioria de seus habitantes em zona rural. O município se estende pela superfície plana do baixo Rio das Velhas, na depressão do Rio São Francisco. É caracterizado por um relevo de colinas isoladas, vertentes ravinas e vales encaixados, apresentando alguns trechos maciços de afloramento calcário, formando paredões com escarpas abrutas. A região apresenta largas e extensas planícies fluviais e solos desenvolvidos a partir de rochas calcarias, onde a fertilidade é mais acentuada. A vegetação é formada por cerrado, campo cerrado, mata decídua e mata ciliar. A hidrografia de Presidente Juscelino está inserida na bacia do Rio São Francisco, sendo seus principais afluentes o Rio Paraúna e o Rio das Velhas, que juntos formam 80% dos limites municipais, caracterizando a cidade com uma hidrografia exuberante. Esses recursos hídricos são usados para o abastecimento humano, pecuária, agricultura e também no uso turístico. Mas, o patrimônio natural de maior destaque no município são as grutas Lapa d’água e Olhas d’água.
Fonte: Pinto, Judison Rodrigues, Memória viva PJ: museu de histórias a céu aberto / Judison Rodrigues Pinto e José Elci Moreira; colaboradores Paloma Aparecida Nunes Leite, Sirléia Aparecida Araújo Rosa, Verenice de Souza Oliveira. -- Belo Horizonte, MG: Selo Editorial Starling, 2024.
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